quinta-feira, 25 de março de 2010

A utilidade pública de Laurentino Dias de Hulk a Cantona

Ao jeito de uma conspiração “holywoodesca”, uma semana depois de perder o Estatuto de Utilidade Pública, a Federação Portuguesa de Futebol no seu melhor, inventou uma justificação para “atropelar” os seus próprios regulamentos disciplinares (Artigo 119º), além dos da Liga, que deviam imperar (Artigo 115º). Uma trama com repercussões já sentidas e interesses óbvios, que nem o mais cego dos mortais poderá negar.
O homem que tem procurado elevar o futebol português ao do que de melhor se faz na Europa, preocupando-se em levar público aos estádios, conseguindo igualmente atrair investidores, que são um desafogo para as finanças dos pequenos clubes, nomeadamente os da Honra, ou como agora é denominada, Liga Vitalis, foi finalmente afastado por aqueles que durante anos “envenenaram” a beleza deste desporto e agora se preparam para o retrocesso aos tempos do Sr. Guilherme de Aguiar.
Outros que querem acabar com a corrupção estão na calha para lhe seguir as pisadas.
Muitos falam em limpeza no futebol. Eu iria mais longe a pedia um golpe de estado, do género do 25 de Abril de 1973. É que esta trama começou a ser delineada nas mais altas instâncias do Governo, mais concretamente na Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto. Se não vejamos. A decisão tomada na reunião do Conselho Nacional do Desporto (CND) implica que as transferências das verbas acordadas nos contratos-programa assinados entre o Instituto do Desporto de Portugal e as Associações sejam congeladas. Imaginando a cor clubista deste secretário de estado, pelo menos aquela de quem ele “não vai à bola” e os diferendos que tem com um respectivo clube da capital, sabemos agora o porquê desta pressão junto da FPF, um grupo de corjas que, realmente, de utilidade pública têm muito pouco, pois defender, subjectivamente, a agressão de jogadores aos espectadores (assim são considerados os stwerds, que passam o tempo de costas voltadas para o relvado) é algo que ainda não consigo compreender. Irónico é que estes mesmos senhores, em reunião de assembleia-geral, realizada em 23 de Janeiro de 2010 decidiram punir com jogos à porta fechada os clubes onde nos seus estádios se verifique o incitamento à violência. A única justificação plausível que encontra assenta nos interesses pessoais. É que muitos desses milhões dos contratos programas, certamente vão parar aos bolsos de alguém. Não nos podemos esquecer que a federação vai agora necessitar de toda a solidariedade das associações e todos sabemos qual é a mais representativa e por consequência a que tem mais poder, AF Porto.
Para avivar a memória dos verdadeiros cegos (aqueles que não querem ver) recordo algumas decisões do Conselho de Disciplina tomadas no tempo em que o Sr. Guilherme de Aguiar exercia as funções de director-executivo e que agora tanto reclamou da morosidade dos processos a Hulk e Sapunaru. A celeridade da justiça é sempre relativa e de cega tem muito pouca. Diria antes que é ligeiramente daltónica.
A 3 de Abril de 1998, Fernando Mendes foi suspenso por três meses, após agredir um bombeiro num Estrela da Amadora-FC Porto. Os incidentes ocorreram a 28 de Fevereiro de 1997, feitas as contas, decorreram 13 meses. Curiosamente ou talvez não, o jogador na altura em que saiu o castigo continuava a envergar de azul e branco, contudo estas já eram as do Belenenses. Há ainda o caso do defesa Lula, suspenso por dois meses, por empurrar o treinador do Benfica, Graeme Souness, no final de um jogo com o Porto a 2 de Maio de 1998. Mais, uma vez o caso demorou cinco meses a ser julgado e quando saiu o castigo, o jogador já se encontrava em Salvador da Baía, a jogar pelo Esporte Clube Vitória.
Em comparação, e embora concorde que não se deve demorar tanto tempo a serem julgados, a celeridade está bem melhor. Recordo um caso mais recente de outra agressão a assistentes de recintos desportivos, pois é assim que devem ser considerados os bombeiros e os stwerds, porque sem eles o jogo não se realiza. O jogador do Leiria, Emmanuel Duah, foi punido com dois meses de suspensão depois de ter pontapeado a perna de um maqueiro, num jogo em Guimarães, a 30 de Agosto de 2008. Tal como nos casos de Hulk e Sapunaru a decisão surgiu dois meses depois.
Poderia aqui falar também nos exemplos que vêm de cima, uma vez que o Sr. Prof. Jesulado Ferreira se mostrou preocupado com a imagem do nosso futebol no estrangeiro. Lembro-lhe que na melhor liga do mundo, o menino bonito do Manchester United, (n.º 7) Cantona, e um dos melhores jogadores na altura foi castigado com uma pena de 9 meses de suspensão, 20.000 euros e 140 dias de trabalho comunitários. Isto sim é utilidade pública.

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